O Parlamento Europeu instituiu o ano de 2010, como o Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social. Segundo vários estudos, estes dois fenómenos atingem e “atacam” sobretudo os agregados familiares com menor instrução. Se queremos combater de forma consequente e sustentada a pobreza e a exclusão social em que tantos dos nossos estão mergulhados, é fundamental que se combata de forma clara e inequívoca a terrível situação de analfabetismo e de iliteracia reinante entre nós.
Barack Obama afirmou que a “literacia é a moeda mais básica” de qualquer economia. Na verdade, o que seria de si se não tivesse tido a mínima instrução? Se a grande preocupação de todos nós é a instrução dos nossos filhos, porque razão mais de nove por cento da população açoriana continua sem saber ler, escrever ou fazer contas? Qual a razão desta ímpia desigualdade, em que os mais abastados dotam os filhos de instrução enquanto os mais pobres continuam condenados a viver no vale da ignorância? É inaceitável que milhares de açorianos, muitos deles crianças e jovens, estejam condenados a crescer sem que lhes seja concedido o instrumento mais básico de que qualquer ser humano necessita e que é o de saber ler e escrever.
Quando visualizamos uma criança atrás de uma vaca em vez de estar na escola de quem será a culpa? Será apenas dos pais quando quase todos eles cresceram mergulhados no analfabetismo? Será aceitável que os nossos responsáveis políticos não coloquem este assunto como prioritário? O que será necessário para que todas as crianças das nossas ilhas possam esboçar o mesmo sorriso ao lerem a mesma história? Será aceitável que se gaste milhões em betão, milhares em festas estilo terceiro mundo, e não exista um combate firme e determinado contra este fenómeno do analfabetismo? Por que razão não se dota todas as crianças açorianas dos instrumentos mais básicos para poderem ambicionar a um futuro melhor ? Que prazer consegue ter um politico de vencer eleições com os votos de tantos que não sabem ler nem escrever e que optam muitas vezes apenas dominados pela demagogia de quem se lhes dirige ? Sinceramente, como conseguem os nossos homens públicos dormir e acordar para a luta sabendo que tantas crianças e jovens atlânticos caminham para a ignorância? É tempo de os nossos políticos vencerem os seus adversários demonstrando ter feito mais pela instrução e preparação das gerações vindouras, do que pelas árvores que mandam derrubar ou pelo cimento que ordenam “plantar”.
A associação Ilhas em Movimento defende que se deverão desenvolver parcerias entre vários organismos, nomeadamente, Juntas de Freguesia e Casas do Povo, através de programas de alfabetização, sendo que se criem planos de ensino a serem executados pelo elevado número de licenciados que, infelizmente, se encontram no desemprego. Com algumas centenas de milhar de euros seguramente os Açores vencerão esta batalha. Defendemos igualmente entre outras medidas, que em vários mecanismos legais e bem assim no acompanhamento e fiscalização dos mesmos, se reforce a obrigação dos beneficiários de apoios públicos de ficarem obrigados a obter instrução para todos os membros do agregado que não a possua.
É obrigação do nosso poder politico a promoção da instrução de todos os açorianos, sobretudo de todos aqueles que, por razões de índole económica e social, estão condenados ao analfabetismo. Se tantos pais têm dificuldade em ajudar os seus filhos nos trabalhos escolares, que dificuldade não terão os filhos dos analfabetos? É inaceitável que tenhamos dinheiro para tanto projecto, e não tenhamos a capacidade de compreender que só apostando fortemente na educação do nosso povo reduziremos a caridade governamental dos rendimentos sociais de inserção e outros. È tempo de os nossos homens públicos compreenderem que os políticos da modernidade se impõem pela aposta na massa cinzenta e não no betão. Só desta forma combateremos de forma clara e sustentada a pobreza e o nosso atraso sócio-económico.